Um passo para a liberdade

Todo dia é o mesmo dia. Pessoas andam para lá, outras andam para cá, mas todas vivem cercadas pelo medo, receio, desconfiança…Meu pai e eu saímos de casa para comprar suprimentos no mercado, mais especificamente, comida e itens de higiene. Logo, fomos rodeados por olhares intrigantes, pois nesses tempos, está sendo bem mais difícil ver uma pessoa ao lado da outra. Como meu pai e eu, as pessoas andavam mais solitárias, estavam todos rodeados pelo grande medo, por conta das grandes perdas… A OSM não trazia muitas esperanças assim…

-Venha cá, Michael, me ajude aqui com essas caixas...

Enquanto estava no meu devaneio de pensamentos, meu pai sempre pegava pesado. Ele era o pilar central da família, um pilar e tanto. Ele tinha muito mais experiência que eu, e, por isso, sinto sempre a necessidade de aprender mais e mais com ele. Com tanto preconceito nesse novo mundo, tanto racismo, me encontro em meio a um mar sozinho, e meu pai sempre é a minha âncora, não importa o que aconteça, ele sempre está presente.

-Não é possível, não tem nada do que precisávamos, já se esgotaram tudo.

Meu pai cabisbaixo com a situação, tinha revirado todos os caixotes, e não encontrou nada do que precisávamos.

-Podemos tentar ir no mercado mais próximo, não fica tão longe. Falo animado procurando sair dessa situação frustrante pro meu pai.

-Eu estou andando muito lento, até chegarmos lá, mesmo que seja próximo, o tempo irá terminar, e então iram soar os sinos do toque de recolher, eu não consigo, filho. Ele falou já se sentando no banquinho mais próximo, ele estava debilitado, mas mesmo assim ele dava o máximo de si, então sem pensar duas vezes eu decidir ir ao mercado o mais rápido possível.

-Não se preocupe pai, irei pegar os suprimentos que precisamos e voltarei o mais rápido possível. Ele assentiu, então eu parti o mais rápido possível, as ruas eram mais vazias, então isso facilitou a minha corrida, até que vejo o mercado bem distante surgindo nas minhas vistas, faltavam apenas 20 minutos para os sinos soar e o toque de recolher vir a tona.

Entrei no mercado rapidamente e, sem hesitar, fui logo à prateleira onde tinha o suprimento que precisávamos, mas em questão de segundos acabei me esbarrando em alguém, nós dois fomos ao chão!

-Desculpe-me!

-Poxa olha para onde anda cara... Enquanto nos erguemos, consegui ver, era Josh um amigo das antigas, ele tinha mudado um pouco, mas era o mesmo de sempre, cabelos loiros, óculos circulares, e um rosto coberto pelas sardas.

-Josh, é você mesmo?

-Mikizinho do céu! Sou eu mesmo! A animação era notória, nos levantamos por completo, e foi uma sensação tão boa em ver alguém conhecido nesse mundo tão desconhecido.

- O que você tava tentando buscar com tanta pressa assim?

-Ah! Tinha quase esquecido, estou atrás de um suprimento. De onde estávamos dava para ver a prateleira, então apontei na direção a ela, e Josh logo viu do que se tratava.

-Mas, ali é a prateleira dos medicamentos, alguma coisa errada?

- Não, nada, bom... Na verdade tem sim, meu pai está bastante machucado, após ter sido agredido por um grupo de pessoas na fila de um mercado, semana passada.

- Poxa que grave Bro, não quero lhe atrapalhar não, vai logo atrás do medicamento.

-Obrigado Josh! Respondi correndo diretamente até a prateleira e pego o tal medicamento, vou para a fila, faltando apenas 10 minutos para tudo fechar, a fila parecia não acabar nunca, mas logo na frente vejo um murmurinho, e quando me aproximo vejo, que era o Josh, ferido, e dois moleques haviam saído de lá.

-Josh, o que aconteceu?- Perguntei, confuso.

-Miki, nesse novo mundo, quem tem mais status, consegue fazer o que quer, eu só queria um enlatado, minhas irmãs não têm muito o que comer.

-Mas ainda há esperanças Josh, eu tenho esperanças de que tudo isso irá melhorar um dia...

-E você acha que eu não tenho?Esperança todos têm e muito, mas ninguém toma nenhuma atitude se quer, já se passaram 15 anos e nada muda, eu ja cansei disso, eu vou agir, Miki você é a pessoa mais expert quando se trata de tecnologia, você poderia me ajudar? Não sabia o que responder direito.

-Eu não... olha amigo, melhor não nos envolvermos nisso. Levanto-o enquanto isso, e o deixo num banco enquanto vou pagar o medicamento que eu fui buscar. Eu paguei o medicamento e fui ajudar o Josh, saimos do mercado juntos, e ele não disse uma palavra, durante o percurso, sabia que a casa dele era a caminho da minha então, o acompanhei, e fomos até o outro mercado onde meu pai estava, mas então, os sinos soam, um monte de gente acelerou o passo e começaram a correr e em meio a multidão eu não conseguir ver o meu pai.

-Miki vá atrás do seu pai, eu espero aqui.

-Tem certeza?

-Total. Deixo ele num canto e começo a procurar o meu pai perto da multidão eram muitas pessoas, e já dava para ver alguns guardas próximos ao local, era questão de pouquíssimo tempo para a coisa toda ficar pior, e então eu consegui ver o meu pai, e quando eu me aproximo ele está sentado, olhando para cima, era uma figura poderosa, que demandava respeito e ordem, estava acima de nós, e tem grande poder em suas mãos, era Irene Canval, a representante da OSM, e também, a pessoa mais importante de todo o nosso estado ou até o país. Ela era imponente, com seus longos cabelos pretos e pele branca parecendo uma lâmina pronta para cortar quem estivesse em seu caminho, foi então que ela virou-se e me viu. Ela olhou no fundo dos meus olhos de uma forma, que eu fiquei em choque, como se todo meu corpo ficasse imóvel por uma força sobre humana, e então ela disse.

-Então, deixa eu adivinhar, você deve ser o tal filho desse senhorzinho?Eu, com poucas palavras e sem reação, confirmei. -Parece que ele não anda muito bem, nesses poucos anos de vida que os restam, e por que um idoso como ele, do grupo de risco, está na rua?

-Eu...

É porque na realidade quando todo o governo da brecha vocês pobres sem futuro algum, veem como forma de consolação, ficar perambulando por ai nas ruas, mas a situação não está para peixes pequenos, vão direto para casa!

Depois de todo aquele sermão, arranjei forças e consegui me movimentar, levantei o meu pai e o ajudei a andar, porém...

-Não, não, não, as coisas não funcionam dessa forma, o sino suou, vocês não deveriam estar mais aqui, porém agora a única forma de voltar para suas casas depois de infligir essa regra é pagando, uma pequena quantia.

-Por favor, esse é o único dinheiro que nos resta para o mês inteiro. Diz o meu pai, e dava para sentir o aperto no coração dele, e no meu.

- Eu não irei repetir novamente. Sem muito tempo para pensar, tiro do bolso o único dinheiro que serviria para a comida naquela semana. E, rapidamente, os colegas dela, arrancaram o dinheiro das minhas mãos e sem mais nenhuma escolha me retirei daquele local, levando comigo o meu pai, voltei ao ponto onde tinha deixado Josh e ele me falou.

-Ainda vai negar, que não há nada que possamos fazer?

-Não, nós realmente teremos que fazer algo.

Logo após isso tudo, Josh se dirigiu a sua casa, mesmo devagarinho, mas ele foi, e meu pai e eu fomos para casa, quando chegamos lá, nos higienizamos tudo direitinho, mas ainda sentíamos a falta daquele dinheiro. Minha mãe, após receber essa notícia, foi rapidamente verificar as panelas, e não tinha encontrado muitas coisas, seus olhos ficaram igual a um oceano, cheios d'água.

Sem muito o que fazer, subi rapidamente para o meu quarto e entrei no meu computador, lá tinha uma notificação de uma solicitação para que eu entrasse em um grupo, e logo abaixo tinha uma mensagem de Josh, falando, que eu precisaria aceitar uma solicitação imediatamente.

Logo, arrisquei e entrei no link, era um grupo, com diversas pessoas, e as conversas, eram conversas de liberdade, eram diversas pessoas, independente do gênero, escolha sexual, cor, nacionalidade, partido, todos estavam ligados, pelo desejo de liberdade. Mas, ainda não havia entendido muito do grupo, até que vi uma mensagem que estava grifada, nela dizia: "A OSM guarda algo muito mais obscuro, e precisamos de provas para acabar com eles de vez".

Passei o resto do dia inteiro vidrado na tela do computador, aquelas aulas de informática nos tempos de escola, que Josh e eu recebemos. Foi perfeita, para esse momento. Nós saímos da escola. Entretanto, a escola não saiu de nós, isso é impressionante. Fiquei apenas observando todas aquelas pessoas fazendo algo, com sangue nos olhos, para que assim tenham um futuro melhor, e então decido entrar mais na jogada, me prontificando para ajudar em algo. Mas, antes de clicar em enviar, o som da TV ligada invadiu o meu quarto e roubou toda a minha atenção: era um comunicado importante da OSM. Levantei da cadeira, abri a porta e desci rapidamente as escadas, e quando cheguei lá estava: Irene Canval.

-Sabemos que estamos em situações críticas, os casos dessa doença misteriosa, ainda se encontram altos, então por isso, decidimos que para preservar todas as vidas possíveis, vocês terão que passar, três dias em casa, preservem o máximo de alimentos que vocês tiverem, pois isso já irá valer a partir de amanhã, e caso alguém esteja nas ruas, teremos atitudes mais severas, para esse tipo de situação... Ah! Quase iria esquecendo, por volta de duas horas atrás, meus funcionários relataram tentativas de acesso a nossa rede de computadores, e já tomamos algumas providências diante disso, o senhor Josh que o diga...

Naquele momento uma foto do Josh apareceu na TV… Meu amigo Josh, com lágrimas nos olhos, me ajoelhei diante da televisão, em choque.

- Vimos que ele é um dos integrantes do grupo, e os mesmos estão armando um complô, contra mim...

Subi rapidamente as escadas e voltei ao meu quarto e verifiquei, que tinham pessoas saindo no grupo com medo, mesmo do meu quarto o som da bendita televisão ainda perfurava aquele ambiente e Irene completou. – [...] A todos os envolvidos, sinto em lhes dizer, mas a caça começou, e assim como o pequeno Josh, que já estamos a procura, espero que os outros apareçam, por bem, ou por mal.

O grupo estava vivendo uma situação caótica, antes haviam 50 pessoas ávidas a mudar o mundo, mas agora só restam um pouco menos que 7, contando comigo. Irene, conseguiu intimidar muitas pessoas, mas a mim não, rapidamente recoloquei todas as pessoas que restavam em um novo grupo, tínhamos agora mais tempo, antes de sermos descobertos, mas esse tempo era o necessário, passei todas as informações rapidamente aos que restavam, nunca digitei tão rápido na minha vida.

Logo os participantes tiveram uma ideia, tentar acessar um dos postos de segurança, e pegar as informações dos computadores centrais. O pessoal do grupo logo criou um programa, que, no celular, se estiver próximo ao computador, consegue pegar as informações que nós queremos.

Estava tudo perfeito, mas chegou a hora da dúvida, quem iria se arriscar para sair de casa?Logo Josh se prontificou, mas ele não poderia... Estavam já a procura dele, retrucou, mas eu convicto disse que iria fazer isso, terminamos a conversa por ali, e no dia seguinte me preparei para sair. Coloquei minha máscara e partir para a missão, eu só tinha que colocar o meu celular, próximo ao computador de um dos postos de vigilância como um posto de vigilância, logo terá pessoas rondando aquela área, me abaixei, na tentativa de ninguém me ver ali. O sol estava quente e batia nas minhas costas, eu tenho que ser rápido, o computador estava em uma cabine, e lá tinha um guarda que estava dormindo logo ao lado. Fora dali tinha outro guarda, esse já estava de pé e atento, e bem acordado inclusive.

Retirei da minha bolsa alguma coisa, e sem pensar duas vezes arremessei em um local que ficava atrás de onde eu estava, o guarda ouviu aquele som e devagar foi saindo de sua posição e foi ver o que tinha provocado aquele barulho. O pessoal do grupo estava a postos para receber os arquivos, e descobrir rapidamente o grande segredo de tudo, então sem hesitar fui em direção a cabine, e cautelosamente entrei na mesma, e deixei o meu celular na mesa ao lado do computador, e rapidamente começou a carregar todos os arquivos, era questão de segundos para todos os arquivos serem divulgados, foi então que...

- Ora, ora... Temos um coelhinho perdido por aqui.

Era Irene, juntamente com dois guarda-costas, logo entrei na frente do celular, na tentativa de que eles não o descobrissem, falta tão pouco para o carregamento terminar, só preciso de um pouco mais de tempo.

-Parece que meu aviso, juntamente com a cara estampada do seu amigo, não surtiram efeito, os pobres nunca aprendem tão facilmente, é sempre preciso ter pulso firme, não posso ignorar isso.

Nesse exato momento meu celular vibra, fazendo o guarda acorda no espanto, e fazendo todos notarem.

- Ah, parece que o celular do guarda vibrou, não é mesmo? - Tentei despistá-los de uma maneira bem estúpida, eu sei, mas o que será que foi aquela notificação que entrou no meu celular, justo naquela hora?

-Não tente me enganar pequeno jovem, me dê o seu celular.

-Não! - Falo firme, e ela se espanta com tamanha ousadia.

- Já que é assim... Guardas, peguem o celular dele, se não for por bem, será por mal.

Eles se aproximavam, já não tinha mais escolha, suas mãos parecendo garras já iriam arrancar um único fio de esperança, iriam arrancar uma revolução, porém, todos os celulares de todo mundo daquele local, começaram a vibrar...

- Não! Não é possível! - Irene tinha arregalado os olhos, os guardas também pegaram os seus celulares, e ficaram espantados, foi então que eu peguei o meu, e vi, já estava circulando na rede, mas era algo que nunca iriamos imaginar. A doença já tinha parado de circular há um bom tempo, e que esse tempo todo estávamos vivendo uma preocupação que não precisávamos mais ter, era tudo una farsa.

- Foi você! Você e seus amigos! O que será de mim, sem o dinheiro das empresas de mascaras, e álcool em gel, você estragou tudo! Ela se aproxima de mim, com voz elevada, porém retruquei.

- Você é terrível, como você pode fazer isso com várias pessoas! Viro as costas a ela e saio do local enquanto ela falava para os guardas dela, para me prenderem, porém eles já não a obedeciam mais, a casa dela tinha caído.

Na metade do caminho olhando para o sol, bem laranja iluminando o céu que naquele dia estava claro, começo a correr, mas não é só uma corrida, é um impulso para um voo. Passei por diversos lugares como se estivesse a voar. É assim que os pássaros se sentem? Essa é a sensação de liberdade? O mundo de agora a diante iria mudar para melhor, Josh, meu pai, minha família e eu, iríamos sentir a mesma felicidade, a felicidade de estarmos, livres…