Entrevista 04

1. Como você acha que os alunos das instituições públicas serão prejudicados no futuro, por não estarem tendo acesso a aulas?

Acredito que a pandemia, na verdade, não irá causar danos muito maiores do que o governo já vem causando ao longo dos anos. A educação não é um processo de seis meses ou um ano. Mesmo a educação escolar dura mais de uma década. O problema da falta de acesso às aulas é responsabilidade ao mesmo tempo dos governadores e prefeitos, que não demonstraram, nos últimos 20 anos, grande preocupação com a educação, sempre investindo na construção de novas universidades ao invés de investir nos anos iniciais de formação e também dos próprios professores concursados que, durante toda a pandemia, enquanto a sociedade estava imersa no caos do desemprego, não se mobilizaram para formar nenhum tipo de estrutura de aula online. Hoje, já sabemos que conceder aulas online são coisas extremamente fáceis e nem um pouco burocráticas; existem diversas plataformas que podem ser utilizadas. Se os professores tivessem mais boa vontade com os seus próprios alunos e com a sua própria profissão – dado que, financeiramente, os concursados são um dos grupos menos atingidos nessa pandemia –, os alunos não precisariam ter esse prejuízo durante esses 6 meses. A verdade é que se os governadores e prefeitos fossem realmente compromissados com a causa da educação, não teríamos em momento nenhum da nossa história os índices mais baixos nas avaliações internacionais. O que acontece é que nós temos um problema tanto na base, digo, dentro da sala de aula, com professores que só pensam em prestar concurso e se manter no mesmo emprego até se aposentar, quanto nós temos nos altos escalões dentro do ministério da educação com os prefeitos, grandes políticos e etc.

Você acredita que os alunos da faculdade que se formarem esse ano, realmente estarão preparados para o ambiente de trabalho?

Primeiramente, vale a pena saber se alguma faculdade hoje ainda prepara os alunos para o ambiente de trabalho, porque a maioria das instituições de ensino superior hoje se tratam de professores que estão descontentes com sua profissão que apenas querem manter os seus cargos e usam comentaristas dos grandes autores de suas áreas, vejo em pouquíssimos casos faculdades realmente voltadas para a preparação do aluno ao mercado de trabalho, a maioria dos cursos das faculdades está preocupado apenas em passar conteúdo para os alunos, conteúdos esses que na maioria das vezes eles não vão utilizar quando se formarem. Então, assim como na primeira questão, o problema é muito maior do que apenas a pandemia, porque a pandemia vai gerar um impacto de no máximo seis meses nas aulas, mas e todas as décadas de educação, o problema é muito maior do que simplesmente esses seis meses da pandemia, se trata de toda a estrutura do sistema educacional.

Como você acredita que os alunos estão sendo afetados por conta dessa pandemia?

É difícil dizer porque cada aluno tem a sua realidade particular própria, mas é fácil perceber que os alunos, sobretudo das escolas públicas que não possuem acesso à internet ou que são de classes ainda mais baixas que a média dos alunos das escolas públicas, esses são os principais afetados. A maioria das escolas particulares deu um jeito de continuar tendo aulas, sobretudo do ensino fundamental 2 ao ensino médio, então, eu não creio que aja tantos prejuízos a longo prazo para os alunos de escolas particulares, agora, vale a pena pensar em outros aspectos além do educacional, como esses alunos estão sendo impactados no seu ambiente social, na sua família, quantos parentes desses alunos podem ter sido acometidos pelo Covid-19 ou podem ter perdido o emprego em virtude da onda de desemprego que vem ocorrendo, porque essas coisas sim vão refletir no desempenho escolar quando as aulas voltarem. Um aluno cuja situação social já se encontrava precária e a família ainda perdeu uma fonte de renda ou perdeu parentes vai se encontrar ainda mais instável e em situação delicada, para esses alunos nós deveríamos lançar olhares mais atentos e caridosos.