O que mudou no seu lugar nessa pandemia?
Essa pergunta nos remete a um olhar sobre o que chamamos de lugar, o que às vezes despretensiosamente associamos a uma localidade onde se vai, onde se foi, o lugar também pode ser aqui, onde estamos agora.
No estudo da geografia, o conceito de lugar é muito importante, pois representa a porção do espaço geográfico, dotada de significados particulares e relações humanas, portanto cada um de nós possui o seu lugar e cada um de nós constrói e reconstrói o seu lugar.
O lugar para geografia, também é coletivo, representado pelos espaços de circulação, de uso comum, público, local de encontro e permanência, e tanto o lugar individual quanto o coletivo foram alterados pela pandemia do COVID -19.
A geografia, ciência que estuda os lugares não teve muita dificuldade em se reinventar, logo partiu para explorar o não tão novo lugar virtual ou espaço virtual, um lugar que parecia frio e distante, logo ganhou um novo olhar, novas perspectivas, novas relações, ligações foram estabelecidas através do lugar virtual, que hoje podemos chamar de nosso lugar.
E dentro desse lugar virtual, os alunos do Colégio Magíster da 3ª série do ensino médio, se propuseram a estudar o novo olhar geográfico no pós - pandemia, dentro da perspectiva da Eugenia no Brasil. E a pergunta agora é: o que mudou na sociedade, no seu lugar, quando falamos sobre escravidão, racismo, Eugenia?
Partindo desses questionamentos, a turma elaborou textos, fez pesquisas, utilizou dados imagens, mapas e reuniu aqui nesse espaço, para que sirva de auxilio e suporte para todos que se interessarem pelo tema.
Vamos?!
A escravidão no Brasil foi marcada principalmente pelo uso de escravos vindos do continente africano, mas é necessário ressaltar que muitos indígenas foram vítimas desse processo. Os escravos foram utilizados principalmente em atividades relacionadas à agricultura – com destaque para a atividade açucareira – e na mineração, sendo assim essenciais para a manutenção da economia. Alguns deles desempenhavam também vários tipos de serviços domésticos e urbanos. A escravidão só foi oficialmente abolida no Brasil com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. No entanto, o trabalho compulsório e o tráfico de pessoas permanecem existindo no Brasil atual, a chamada escravidão moderna, que difere substancialmente da anterior.
A escravidão foi uma instituição que se estabeleceu no Brasil por volta da década de 1530, quando as primeiras medidas efetivas de colonização foram implantadas pelos portugueses. Essa escravização ocorreu, a princípio, com os nativos, e, entre os séculos XVI e XVII, foi sendo gradativamente substituída pela escravização dos africanos que chegavam no Brasil pelo tráfico negreiro.
A escravidão no Brasil atendia à demanda dos portugueses por trabalhadores braçais (tipo de trabalho que os portugueses desprezavam) e, nos séculos XVI e XVII, isso está relacionado, principalmente, com o trabalho nas roças. A princípio, a relação de trabalho utilizada pelos portugueses foi a do escambo com os indígenas, mas logo optaram por implantar a escravidão.
A escravidão no Brasil foi tão cruel e a quantidade de africanos que foram trazidos durante três séculos foi tão grande que a imagem do trabalhador escravo em nosso país associou-se com a cor de pele do africano. Um sintoma evidente do racismo que estava por trás da instituição da escravidão em nosso país.
A escravidão no Brasil foi tão cruel e a quantidade de africanos que foram trazidos durante três séculos foi tão grande que a imagem do trabalhador escravo em nosso país associou-se com a cor de pele do africano. Um sintoma evidente do racismo que estava por trás da instituição da escravidão em nosso país.
A escravidão no Brasil foi cruel e desumana e suas consequências, mesmo passados mais de 130 anos da abolição, ainda são perceptíveis. A pobreza, violência e a discriminação que afetam os negros no Brasil são um reflexo direto de um país que normalizou o preconceito contra esse grupo e o deixou à margem da sociedade.
Importante nos atentarmos que a escravidão também afetou milhões de indígenas e disseminou preconceitos em nosso país contra esse grupo também. O reflexo direto disso, além do próprio preconceito contra os indígenas, foi a redução populacional desses povos que de milhões de habitantes, no século XVI, passaram para cerca de 800 mil, atualmente, segundo o IBGE.
Francis Galton foi o responsável por criar esse termo, em 1883. Ele acreditava que o conceito de seleção natural de Charles Darwin, poderia se aplicar aos seres humanos. Este seu projeto tinha a pretensão de comprovar que as capacidades —principalmente a intelectual— eram hereditárias, para justificar os atos de exclusão.
Posteriormente, foi criado no Brasil o movimento de eugenia, sendo muitos de seus apoiadores, nomes considerados como a elite intelectual da época, como médicos, engenheiros, jornalistas e entre outros.
Eles buscavam na biogenética, o respaldo para a exclusão de deficientes, negros, imigrantes e entre outros. Considerando assim, somente os brancos de descendência europeia como eugênicos.
A partir disso se desencadeou teses, livros e até mesmo artigos na constituição, dentre elas, uma controlava a entrada de imigrantes no Brasil.
E o considerado pai da eugenia brasileira, Renato Kehl(1889-1974), achou que deveria ir mais a fundo neste assunto, acreditando que a melhoria racial só poderia melhorar a partir de um amplo projeto que favorecesse o predomínio da raça branca no país.
Partindo disso, inúmeros profissionais tiveram ideias para acrescentar este projeto, tendo muitos intelectuais, tanto contra, quanto a favor e este movimento têm influência até os dias atuais.
Dentre os nomes a favor deste movimento estavam: Júlio de Mesquita, proprietário do jornal O Estado de S. Paulo; Oliveira Vianna, jurista e sociólogo considerado ‘imortal’ pela Academia Brasileira de Letras. E entre os nomes que estavam contra, o que mais se destacou foi o médico sergipano Manoel Bonfim.
O Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão, tendo seu acontecimento em 1888. Ainda hoje no século XXI, é possível ver os reflexos dessa abolição tardia no país. O racismo se trata de um fenômeno social, histórico e está intrínseco a formação da sociedade brasileira, que construiu seu patrimônio e riqueza econômica encima da exploração e do genocídio da população negra.
O racismo está presente no Brasil desde os tempos coloniais. Foi estruturado e perpetuado na sociedade a partir de um processo de desvalorização e restrição de acesso dos negros a oportunidade de ascensão social.
Portanto, o racismo faz parte da estrutura social brasileira, e se configura quando pessoas negras são excluídas da maioria das estruturas sociais e políticas, e as instituições agem na perspectiva que privilegiam os/as brancos/as e mantém suas vantagens em detrimento as vidas negras (Kilomba, 2020 p. 77.)
O racismo está na violência policial (João Pedro de 14 anos, foi assassinado dentro de casa, durante uma operação policial. Dois em cada três jovens mortos são negros; 79% dos policiais envolvidos são brancos), os livros didáticos (a maioria das histórias são contadas do ponto de vista branco), na instabilidade da produção intelectual negra que apenas recentemente tem sido reconhecida e valorizada, os estereótipos raciais que traduzem homens negros como suspeitos e mulheres negras como domésticas, estas são suas representações sociais possíveis a 132 anos. “O silêncio ea negação do racismo são os instrumentos mais eficazes para sua manutenção. A estratégia de visibilização do racismo brasileiro é uma das maiores demonstrações de poder deste país" afirma a socióloga Marcia Lima.
A prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas. Como diz Sílvio Almeida em seu livro Racismo Estrutural:
"Consciente de racismo é parte da estrutura social e, por isso, não necessita de intenção para se manifestar, por mais
que calar-se diante do racismo não faça do indivíduo moral e/ou juridicamente culpado ou responsável, certamente o
silêncio o torna ética e politicamente responsável pela manutenção do racismo. A mudança da sociedade não se faz apenas
com denúncias o corretor de moral do racismo: depende, antes de tudo, da tomada de posturas e da adoção de práticas
antirracistas."
Ler imagens nos ajuda a compreender o mundo ao nosso redor, nos leva a refletir e também nos leva a possibilidade de construção ou reconstrução de uma nova realidade.
A estatística é uma ciência aliada da geografia, é muito utilizada também em várias outras ciências, a estatística têm sido muito importante nessa época de pandemia, nos informando e nos atualizando sobre os dados referentes à Covid 19. Aqui a estatística vai nos ajudar a ler, interpretar e refletir alguns dados sobre a Eugenia, a escravidão e principalmente o racismo estrutural no nosso país.
E por meio da cartografia, quaisquer levantamentos (ambientais, socioeconômicos, educacionais, de saúde, etc.) podem ser representados espacialmente, retratando a dimensão do territorial, facilitando e tornando mais eficaz a sua compreensão.
Abaixo alguns dados estatísticos e cartográficos sobre a escravidão e o racismo no Brasil.
Veja abaixo as principais rotas do tráfico transatlântico entre 1501 e 1866 e o destino da maioria dos escravizados (em milhões).
Em números absolutos, recebemos cinco vezes mais escravizados do que as colônias espanholas.
O Haiti tomou a dianteira dos movimentos pela liberdade, seguido pela Inglaterra. O Brasil seria o último a libertar
escravizados.
1793 – Haiti
1888 - Brasil
Dados sobre o racismo no futebol brasileiro
Segundo o relato dos jogadores, há casos de injúrias raciais em 14 estados, espalhados pelas cinco regiões do país.
Não é novidade que no Brasil a população negra é a maior vítima das diferentes formas de violência. A violência se aprofunda, e isso é fato nas populações que já sofrem desigualdades socioeconômicas, para as quais se acumulam as opressões, a exploração e consequentemente a violência, como é o caso da população negra e das mulheres negras em especial. O que se pergunta é: por que não causa comoção social? Quantas chacinas têm acontecido nas periferias das cidades, cujas vítimas são todas pretas, e não há comoção, não há repercussão? Quantos mais homens e mulheres negras precisarão morrer para que nossa sociedade perceba e se revolte com o que está acontecendo?
Esses dados reais confirmam o racismo em toda sua força, em todos os seus sentidos e, muito além do que bem denuncia Elza Soares: “A carne mais barata do mercado é a carne negra”, não é só a carne mais barata, é a carne que é mais esmagada, mais violentada, mais explorada, mais oprimida.
Abaixo percebemos os Estados onde existe a maior concentração de pessoas que se declaram pretas, com destaque para a Bahia. Dados do IBGE.
No Censo 2010, mais de 190 mil recenseadores visitaram 67,6 milhões de domicílios nos 5.565 municípios brasileiros.
Neste site você encontra as informações sobre todas as etapas de realização do Censo 2010.
Em função das orientações do Ministério da Saúde relacionadas ao quadro de emergência de saúde pública causado pelo COVID-19, o IBGE decidiu adiar a realização do Censo Demográfico para 2021.
A decisão leva em consideração a natureza de coleta da pesquisa, domiciliar e predominantemente presencial, com estimativa de visitas de mais de 180 mil recenseadores a cerca de 71 milhões de domicílios em todo o território nacional.
Considera, do mesmo modo, a impossibilidade de realização, em tempo hábil, de toda a cadeia de treinamentos para a operação censitária, cuja primeira etapa se iniciaria em abril de 2020, de forma centralizada, e posteriormente replicada em pólos regionais e locais até o mês de julho.
A geografia assim como várias ciências, se referencia nas leis, para entender e explicar as ações humanas na sociedade.
Gostou do tema? Quer saber mais? Veja nossa lista de sugestões de filmes, livros, documentários.
Starr Carter é uma adolescente negra de dezesseis anos que presencia o assassinato de Khalil, seu melhor amigo, por um policial branco. Ela é forçada a testemunhar no tribunal por ser a única pessoa presente na cena do crime.
Em Infiltrado na Klan, que se passa em 1978, Ron Stallworth, um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na KuKluxKlan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar.
Em plena Guerra Fria, Estados Unidos e União Soviética disputam a supremacia na corrida espacial ao mesmo tempo em que a sociedade norte-americana lida com uma profunda cisão racial, entre brancos e negros. Tal situação é refletida também na NASA, onde um grupo de funcionárias negras é obrigada a trabalhar a parte.
Cinebiografia do pastor protestante e ativista social Martin Luther King, Jr, que acompanha as históricas marchas realizadas por ele e manifestantes pacifistas em 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, em busca de direitos eleitorais iguais para a comunidade afro-americana.
Ambientada em uma faculdade predominantemente branca, a série acompanha um grupo diversificado de estudantes enquanto enfrentam tensões raciais, que frequentemente são varridas para debaixo do tapete. Dear White People é uma amostra da América “pós-racial” e conta também uma história universal sobre trilhar o próprio caminho.
Documentário humano, narrativo e poético com várias camadas que desvelam o racismo estrutural que está impregnado nas relações familiares, nos ambientes de trabalho e faz parte da subjetividade das pessoas negras e brancas. Herança da escravidão permanecepresente até os dias de hoje.O Brasil foi o último país do mundo a abolir o trabalho escravo.
Sabemos que o tema não se esgota, esse foi apenas o início de uma discussão escolar, onde alunos e professores juntos construíram informações, coletaram dados e reuniram nesse site com a finalidade de servir de subsídio e principalmente de referência para a comunidade escolar. Esperamos que tenham gostado do nosso trabalho.